No Oriente os animais se entendem


SE OS ANIMAIS SE ENTENDEM...



Tenho mais da metade da minha família vivendo na África - tenho até um sobrinho africano, nascido há 20 anos no Malawi, o Mteka, lindo africano loiro de olhos verdes - mas isso é outra história. O que queria contar é que ontem recebi carta de Anna Paula, minha sobrinha de 25 anos, que vive na África do Sul. Moça inteligente e determinada, sabe escrever muito bem, e na carta extensa (nunca tão extensa quanto quer a saudade) contou-me muitas coisas, entre elas, um acidente de carro que teve em plena Zululândia. Não me perguntem como é a Zululândia porque eu não faço idéia, mas sei que é algum lugar que existe na África do Sul.

Minha sobrinha detalhou o acidente: depois de muitas voltas do carro, ela foi atirada num pasto de uma fazenda. Transcrevo, em seguida, um trechinho da carta dela: "... Pensei que tinha morrido, mas aí ouvi as vacas mugirem. Em plena Zululândia, em pleno feriado nacional, numa região onde ninguém fala inglês, só zulu, as vacas mugiram igualzinho às vacas de Indaial (SC)."

Aí me lembro da minha mãe, na época em que eu era uma criança. Naqueles tempos do começo da década de sessenta, para quem morava num bairro proletário de Blumenau (SC), tudo o que ficava no exterior ou muito longe era representado pela Alemanha. Tínhamos um cercado onde criávamos galinhas, e lembro como minha mãe ficava observando-as e pensando, e no final dizia:

- Será que na Alemanha as galinhas cantam igual às daqui?

Boa pergunta que ainda não verifiquei "in loco", já que nunca estive na Alemanha, mas posso falar dos cachorros de Paris. Paris parece ser a pátria dos cachorros, e vi centenas deles nos tempos em que fiquei lá. Sem dúvida os cachorros de Paris latem e reagem exatamente como os cachorros de Blumenau - eu, fã incondicional dos cães desde criança, até me atrevia a falar com eles, e se eles não entendiam meu português, entendiam, e muito bem, as minhas intenções amistosas, pois me farejavam e abanavam a cauda igualzinho a qualquer cachorro de Jaraguá do Sul(SC) ou Maceió(AL). Há em Paris, também, claro, cachorros pernósticos, como os há em qualquer lugar, cachorros com o nariz empinado, que não se dignam aceitar a amizade de uma estranha, ainda mais terceira-mundista, mas eles são excessões. Acho que os cachorros de Paris têm o mesmo senso de amizade e de lealdade que os cachorros de qualquer lugar do mundo.

Bem, se as vacas da Zululândia mugem igualzinho às de Indaial, se as galinhas do Brasil devem cantar igualzinho às da Alemanha, e se os cachorros de Paris latem e se comunicam do mesmo jeito que os do Brasil, isto significa que eles se entendem em qualquer lugar do planeta. Se trouxermos um cão da Alsácia para cruzar com a nossa cadela vira-lata, os dois se entendem na hora - não há a menor necessidade de matricular o estrangeiro num curso de idiomas antes. Providenciam logo uma ninhada de filhotinhos mestiços, e os criam sem nenhum constrangimento racial ou nacionalista. Se uma vaca de Indaial for fazer turismo na Zululândia, com certeza vai se entender direitinho com as vacas do pasto onde a minha sobrinha Anna Paula caiu.
E os evoluídos seres humanos? É muito mais complicada esta raça à qual pertencemos. Para começar, precisamos de muitas línguas, uma para cada pedacinho do planeta. Depois, precisamos de fronteira para nos protegermos. E por um dá-cá-aquela-palha iniciamos uma guerra, matamo-nos aos milhões, cometemos as maiores atrocidades com os seres da nossa própria espécie. Não seria tempo de nos espelharmos nos animais? Eles também brigam, é bem verdade: pelo território, pela disputa das fêmeas, pelo alimento, para proteger os filhotes. São brigas necessárias à sobrevivência da espécie, e elas terminam como começaram: basta o ameaçador ir-se embora, desistir da briga. E nós? Nós somos capazes de alimentar uma querela durante séculos; somos capazes, como povo, de odiar outro povo e tentar exterminá-lo sem a menor piedade, e a História está cheinha de exemplos das guerras e das mortes que se fizeram em nome de Deus, esse Ser superior que, teoricamente, deveria nos elevar como espécie e nos tornar melhores do que qualquer outra. Nós, os humanos, somos tão corrompidos que usamos até a idéia da divindade para cometer atrocidades.

Bem que a gente podia encarar a filosofia das vacas da Zululândia ou das galinhas da Alemanha. Poderíamos todos falar numa língua do entendimento, e acabar com as Bósnias e as Sérvias da vida. Porque as vacas da Zululândia e as de Indaial, com certeza, se entendem. E nós?


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